Reticente e Inverossímil

Reticente e Inverossímil é uma obra poética de um artista brasileiro sul-mato-grossense, LGBT e afroameríndio, que transforma em linguagem a experiência de um tempo fraturado. Escrita em meio às incertezas da pandemia e atravessada pelas tensões sociais e íntimas da contemporaneidade, a obra se apresenta como testemunho poético de precariedade, resistência e reinvenção.

A coletânea se estrutura como um mosaico de vozes: ora contemplativas, ora insurgentes, ora confessionais. A poesia se movimenta entre o espaço privado — quartos, corpos, silêncios — e o espaço público — ruas, protestos, crises sociais. Essa oscilação cria uma atmosfera fragmentária, como se cada poema fosse ao mesmo tempo um registro e uma ruína, um vestígio de mundo que se desmancha e se reconstrói pela palavra.

O título condensa o espírito da obra. O “reticente” sugere a suspensão, o inacabado, a recusa do ponto final; o “inverossímil”, por sua vez, evoca o improvável, o que desafia o real imediato. Dessa conjunção nasce uma poesia que não busca estabilizar sentidos, mas, ao contrário, provoca o leitor a se perder e a se reconstruir no fluxo da linguagem.

Nos versos, o lirismo se mistura a referências sociais e políticas: da pandemia ao cotidiano urbano, do íntimo amoroso à crítica de estruturas de poder. Há poemas de impacto direto, como Nota Pandêmica, em que a linguagem é cortante e documental, e outros em que o discurso se aproxima do devaneio surreal, como em Incandescente e Des Concerto. Essa variedade formal não é dispersão, mas um recurso de intensidade: o livro se deixa atravessar por contradições, refletindo a própria experiência do presente.

A escrita é marcada por imagens fortes, fragmentos desconexos que se recombinam como estilhaços de um vitral quebrado. A experiência da leitura é menos linear que sensorial: o leitor é instigado a se deixar levar pelo ritmo entrecortado, pela cadência irregular, pelo impacto das metáforas inesperadas. A poesia aqui não fecha sentidos, mas abre espaços de ressonância, exigindo participação ativa de quem lê.

Reticente e Inverossímil é, assim, mais do que um livro de poemas: é um testemunho poético da precariedade e da resistência, um registro de um tempo conturbado que se converte em linguagem estética. A obra convida à reflexão sobre a fragilidade e a potência humanas, transformando o desconforto em arte e o caos em criação.

Nota da Editora: Informamos que todas as edições de Reticente e Inverossímil encontram-se atualmente esgotadas.